Isolada

Basicamente bloquiei meus melhores pensamentos e agora só os angustiantes me acompanham. Minha presença, insuportável presença me persegue e nesse ambiente tão fechado eu me encontro.

Aqui nada me feri, além de minhas mais cruéis lembranças, aqui nada me faz chorar, além das minhas terríveis boas recordações do ontem, aqui eu consigo controlar tudo, menos o meu coração que suplica por liberdade. Eu me tornei assim, por qual motivo? Ainda não sei, apenas preferi estar aqui do que lá do outro lado, onde a vida parece seguir seu rumo tão calmamente. Onde as pessoas conseguem fingir tão bem que gostam umas das outras, onde tudo parece ser motivo de cobiça, inveja e maldade. Talvez por não conseguir agir da mesma forma eu me coloquei aqui, sozinha, tentando entender a mim mesma. Der repente ouço um barulho, largo o meu inseparável diário já todo amarrotado e úmido das lágrimas que não me deixam em paz, vou até a janela, noto que chove lá fora, engraçado, pois eu nem sabia em que estação estava e nem que hora do dia era. Noto uma pequena borboleta de cor escura, algo que eu nunca tinha visto, ela parecia machucada, assim como eu, ela batia suas asinhas, imaginando eu que implorava para que eu abrisse a janela. Mal ela sabia que eu não sentia ar puro há dias e que a única visão que eu tinha do outro mundo era daquela janela, onde nem um dia eu me dispus a fazer companhia. É eu vivia fechada no meu mundo, apenas naquele quarto que ficara escondido daquela casa tão grande, onde ninguém havia percebido minha ausência. Ali era meu refugio, o lugar que eu me sentia bem, onde continha todos os meus segredos e onde escondia todas as fotografias tiradas por mim, porque meu pai não aceitava esse tipo de “perda de tempo” e onde eu havia deixado por anos as cartinhas destinadas a minha mãe no segundo domingo de maio, e todos os inúmeros presentes ainda na caixa destinados a meu pai no segundo domingo de agosto.

Estava tudo lá no lugar que eu enfatizava ser meu mundo, meu pequeno espaço aonde eu vinha todos os dias e agora me sentia tão bem sem voltar para a realidade. Por alguns instantes depois de dias tive lembranças boas para uma garota da minha idade, onde não pensava mais em manter-se longe de todos. Olho ligeiramente para a janela a procura da tal borboleta, quando meus olhos encontra-a caída e sem movimento algum, meus olhos enchesse de lágrimas e num impulso imediato eu abro a janela sem pensar. Aquele ar puro tomou conta de todo o ambiente, tive um arrepio enorme, me senti em paz, peguei aquele pequeno ser que ainda lutava pela vida e coloquei encima da minha cama, ela ligeiramente se mexeu, voltando assim a ter forças, me vi obrigada a abrir novamente a janela para que ela não batesse na parede e se machucasse outra vez. Abri e novamente tive aquela sensação estranha, ela saiu rápida e deixando no ar um convite para que eu saísse daquele lugar. Fechei bruscamente a janela e voltei para meu mundinho, mesmo sem saber quando pretendo sair dali, meus belos pensamentos insistem em voltar, onde o que eu mais queria nesse momento é ter forças para recomeçar outra vez e não deixar ninguém me abalar. Mas enquanto essa coragem não chega, eu continuo aqui, entre páginas do meu diário, sofrendo calada, nesse mundo que eu escolhi, vivendo isolada, em um lugar só meu, que não divido com ninguém.