Sufocada pelas sombras daquela casa


Tudo parece se repetir quando estou aqui, as mesmas dores, as mesmas lágrimas, os mesmos horários, os mesmos medos.
Quando ouço o relógio bater 18:30h eu sei que tudo começará novamente, é tão estranho eu não conseguir ter atitude frente a isso. Parece que simplesmente sou dominada por algo que eu jamais imaginei que seria, sinto aquele arrepio tomando conta do meu corpo, sinto o sangue pulsar em minhas veias num suplico para que eu consiga quem sabe dessa vez me controlar.
O céu fica escuro, e meu coração se fecha, quando eu sinto a primeira palavra ser jogada contra mim eu caio sem ter forças pra levantar.
Passo horas ali, sendo testada alguém que tinha que me conhecer mais que qualquer alguém, quisera eu saber o meu limite, mas quando tudo parece ficar calmo, eu não me reconheço e me transformo em algo ainda indecifrável.
As palavras arranham meu coração, me fazem simplesmente fechar os olhos, apertar os punhos, respirar fundo e tentar tirar de algum lugar a tal calma que todos me pedem. É impossível ter o controle frente a alguém que faz de tudo para que tua raiva seja solta, para que aquilo de ruim que existe dentro de ti seja colocado pra fora. E num grito de socorro eu peço que pare, pois minhas forças nunca serão o suficiente e eu sei que meu limite está logo a frente.
Me olho no espelho e não me reconheço, tento entender o porque me torno aquele alguém irreconhecível. O que mais me angustia é saber que é apenas eu, que a solidão é minha única companheira, e que se eu não fizer algo, meus dias serão sempre assim e minhas noites se resumirão a dor.
Naquele lugar eu vejo que não posso me esconder mais, as pessoas me tiram a privacidade de meus próprios pensamentos, eu não consigo respirar sozinha, preciso da autorização para que minha vida siga, dói é incomparável a dor de não poder dar um simples passo e dizer que estás livre.
Papéis de todas as formas me retratam, são cartas, são lembranças, são lágrimas secas que o tempo não conseguiu apagar, são pedidos de um simples coração que o que mais deseja é poder andar com suas próprias pernas. Sei que se eu custar mais um tempo eu vou estar me maltratando, mas ainda não consegui achar a força necessária pra tentar viver.
No relógio são exatamente 01:26h da manhã e eu ainda estou acordada, ainda ouço aqueles gritos que entram sem dó em meus ouvidos, atingindo meu coração. Tento me esconder no mais escuro do meu ser, sinto frio, sinto falta do que eu nunca tive, sinto saudade daquele alguém por perto, e nesse momento o abraço de meus amigos eu sei que me tirariam dali.
Encolhida sobre o tapete do meu quarto eu adormeço, sobre o meu travesseiro inundado de lágrimas eu sonho, vejo tudo aquilo que eu desejo. E quando noto o dia amanheceu, faz tempo que eu não sei o que é olhar pro céu, pra mim todos os dias são iguais, escuros, sem vida, sem sabor. Minha rotina me sufoca e eu desejo constantemente não pertencer a isso. Meu trabalho é algo que me distrai, e por incrível que parece é a hora que eu sei o que é viver. O dia passa rápido demais e quando me dou por conta, estou eu novamente nas sombras daquela casa. Talvez hoje eu esteja mais preparada do que ontem, talvez hoje eu saiba o que dizer e o que fazer, quando eu ouço a primeira palavra, as lágrimas caem numa mistura de angustia, medo e revolta.Estou eu aqui frente a frente comigo, sem saber o que fazer, apenas deixando que me acertem, que me machuquem e que façam o que for preciso, pois no final de tudo eu sei que será a mesma coisa, afinal são anos lutando contra algo que sempre me pareceu invencível.
Apenas quero ter forças o suficiente para fugir daqui, sinto que estou presa a um mundo que não me deixará viver, um mundo que me consome.
Só os quatro cantos do meu quarto sabem o que eu vivo, e no segredo mais profundo de meu ser eu sei o quão forte sou. Por mais que essa tortura não tenha fim, por mais que eu precise de alguém, pra tudo isso eu digo, que não tenho fim também.  

Comentários
10 Comentários

10 comentários:

  1. Nossa, que texto expressivo. São palavras que retratam o que está na alma. Não sei se você está vivendo exatamente isso, mas mostra um medo comum e particular. Cada um tem o seu, à sua maneira.
    Belas palavras.
    =)
    Beijos.


    http://palavrasaouniverso.blogspot.com/
    Vá se gostar!

    ResponderExcluir
  2. Precisamos ter coragem para nos libertar daquilo que nos sufoca e nos impede de viver. Uma vez isso feito, não se arrependerá. Seu texto expressa muito bem os sentimentos da personagem, me senti como como ela: sufocada e querendo sair dali. Ficou muito bom, sério mesmo! ^^
    Beijos :*

    ResponderExcluir
  3. Nossa, seu texto ficou bem parecido com o meu para a 37ª edição para a edição conto/história.
    Gostei muito, essas coisas sobre controle, soltar a voz, ser forte, ter coragem, sempre emocionam.
    Beijos.

    ResponderExcluir
  4. Muito bom seu texto...
    As vezes me sinto meio preso a problemas, e é bom escrever expressar esses sentimentos,nos faz sentir melhor!

    Parabéns!

    http://falando-peloscotovelos.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  5. me sinto assim tmb, vontade de fugir de tudo e de todos. a vida as vezes cansa :/

    ResponderExcluir
  6. Ameei, muito bom seu texto super expressivo, muitas vezes nos sentimos assim.
    Adorei seu blog, estou te seguindo! :*

    ResponderExcluir
  7. Nossa, você escreve muito bem, o texto corre num ritmo bom.
    Acho que todos, ou muitos passam por momentos dificeis, onde se veem presos e sem forças para viver, mas esses momentos passam... por mais dolorosos que sejam no momento, ninguem esta condenado a viver algo ruim, mas é necessario agir, é necessario fazer algo para que a vida melhore, e não se entregar ao sofrimento.

    Parabéns pelo blog, gostei da postagem!
    Bjs

    ResponderExcluir
  8. Palavras intensas, profundos que mostra todos os sentimentos que um coração, ou vários, já sentiu um dia.

    ResponderExcluir

Seu comentário é sempre bem vindo.
Mas não esqueça, aceito suas palavras se você aceitar as minhas.

Att. Juliane Bastos


Designer por Juliane Bastos e Pâmella Ferracini exclusivamente aos 3 anos do blog.