Para: Amor

De: Amada

Vale da Solidão, setembro de 2010.

No relógio são exatamente vinte e duas horas, lá fora cai uma leve garoa em sinal que o dia amanhã não será dos melhores, apesar de ter feito um sol muito agradável essa tarde, tudo indica que isso não irá voltar.

Desculpe as palavras em vão que escrevi acima, mas na verdade não sei como lhe contar o que estou sentindo e como estou vivendo, talvez seja o medo por demonstrar meus sentimentos ou talvez pela dor que ainda trago no peito por você ter me deixado.

Hoje fazem doze meses que li sua última carta, onde você escreveu duramente que estava num lugar tão tranqüilo, um lugar onde as pessoas lhe compreendiam, que era diferente daqui, onde só eu conseguia te entender. Disse também que estava contando os infinitos segundos para me ver novamente. Foi neste dia também que lhe escrevi a última carta. Sinceramente Amor, ainda não sei o motivo do nosso afastamento e nem porque durante esses meses eu vivo com a impressão que você vai voltar a qualquer momento.

Meus dias não são mais os mesmos, acordo sem ânimo algum, e meu primeiro pensamento, é você. É tão angustiante acordar, olhar pro lado e estar só. É tão difícil chegar sexta-feira à noite e você não bater na minha porta, com aquele ar cansado por ter trabalhado a semana toda, pedindo abrigo nos meus braços, implorando por carinho e descanso. É triste passar cada mês e eu não ter a quem dar os parabéns e agradecer por todos os dias de felicidade. É desconfortante ter você todas as noites comigo, me fazendo carinho e lendo uma poesia que você acabara de escrever e quando o dia amanhece eu abro os olhos e você não está ali.

Eu to tentando achar uma forma para seguir em frente, talvez todas aquelas palavras de incentivo que você me deixou, hoje estão funcionando. Sabe Amor, meus dias estão opacos, minha vida não tem sentido, meus amigos me abandonaram e minha família ainda não me entende. A única alegria que tenho é as boas lembranças e a Mely, minha fiel companheira que não me abandona por nada.

Não sei onde você está, como você está e se estás acompanhado. Mesmo assim Amor, quero que saiba que eu ainda continuo aqui, no mesmo lugar que você me deixou há meses atrás, sem nem ao menos me dizer que iria embora e muito menos que iria voltar.

Eu só te peço que não me abandone de vez, que não pare de habitar meus sonhos e nem me deixe mais triste. Minhas noites se resumem em lágrimas, trancada no meu quarto, com o caderno na mão decifrando esse sentimento. Eu tentei retomar minha vida, conhecer um outro alguém, mas não consegui, foi complicado e meu coração resolveu não magoar um outro.

Mas agora Amor, depois de tudo que passei, de todos esses dias vivendo presa em mim mesma, eu resolvi recomeçar. Aquele mundo não estava mais me servindo, as pessoas diziam que eu estava doente, apesar de ter emagrecido 10 kg e minha aparência não ser mais a mesma, eu me achava saudável, diziam que eu deveria me tratar e que viver chorando por alguém estava me deixando louca. Eu não escutei ninguém, acho que muitas vezes nem a mim mesma, que tantas outras me cuidei.

Vim para um lugar com muitas pessoas, pessoas como eu, estou bem aqui até. Para o primeiro dia está sendo legal, eram muitas novidades, muitas histórias e quase todos os corações daqui são partidos que nem o meu. Desculpe lhe falar isso, mas conversei hoje a tarde com um moço muito simpático que já está aqui há um ano, não sei por que mas ele mexeu comigo. É Amor quem sabe ele consiga cicatrizar todas as feridas que você fez.

Mesmo tendo quase certeza que você não irá me responder, essa é a última carta que lhe mando, é,  porque aqui não pode ser escritas cartas, só no primeiro dia para dizermos a quem fica no “outro mundo”, como estamos.

Se eu nunca sair daqui e você chegar a voltar, quero que saiba de uma coisa Amor, não importa a distância que nos separe, você está em mim, ficará em mim e permanecerá para sempre em mim.

Um carinhoso beijo, emoldurado com muita saudade, da tua eterna, Amada.